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Filosofia Profissional e Crítica à Etnofilosofia

Os críticos da etnofilosofia argumentam que não devemos misturar o uso do termo “Filosofia” em um sentido ideológico

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Os críticos da etnofilosofia argumentam que não devemos misturar o uso do termo “Filosofia” em um sentido ideológico. “Filosofia” é a palavra usada para descrever uma disciplina rigorosamente científica.

Reivindicar que os africanos tenham sua própria filosofia seria cair nas armadilhas dos colonizadores, que tentam criar a ilusão de que os africanos possuem uma filosofia, quando na realidade o que temos são mitos, crenças e provérbios.

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  Argumentos de Paulino Hountandji

Paulin Hountondji, um renomado crítico do Benin, apresenta os seguintes argumentos em seu trabalho “African Philosophy, Myth and Reality” de 1974:

  1. Ao reivindicar a existência de uma Filosofia africana, corremos o risco de cair na armadilha colonialista e racista que insiste na diferença entre africanos e europeus. Portanto, qualquer menção à filosofia africana nos obriga a definir claramente essa relação, para que não aceitemos uma filosofia africana que negue a filosofia em geral.
  2. Filosofia, em seu sentido estrito, é uma disciplina científica, teórica e individual, assim como a Linguística, a Álgebra, e, portanto, não pode ser substituída por crenças populares, práticas tradicionais e comportamentos populares de qualquer povo. A filosofia não deve ser identificada com mito ou religião tradicional.
  3. A Filosofia, como disciplina científica, teórica e individual, sempre emerge em oposição ao mito, às religiões tradicionais e ao dogmatismo conservador. A relação filosófica com o mito e as religiões tradicionais não é uma relação arquivista ou arqueológica com o objetivo de sistematização e perpetuação, mas sim uma crítica consciente e contínua da tradição do povo diante dos desafios presentes e futuros.
  4. O projeto de construir uma Filosofia africana é, na verdade, um projeto europeu para separar a civilização africana da europeia, sugerindo que a civilização africana está fixada nas tradições antigas, com todo o poder africano residindo no passado. Os filósofos que encaram a filosofia a partir do passado são chamados de etnofilósofos e tendem a sufocar a capacidade criativa dos africanos, querendo que os filósofos africanos sejam apenas ativistas de suas tradições culturais, em vez de pensadores originais.
  5. Todos concordam que a Filosofia africana não pode surgir do nada, mas deve necessariamente fazer parte da herança cultural. No entanto, essa herança cultural não se resume apenas a olhar para trás. A Filosofia africana deve ser um confronto criativo de suas ideias com o presente e o futuro.
  6. O papel criativo da Filosofia africana deve ser desempenhado por filósofos africanos que são os sujeitos da atividade filosófica. A africanidade da Filosofia africana emerge a partir de uma atividade filosófica de discussão e crítica entre os africanos que são filósofos. A africanidade não se trata apenas de falar sobre a África ou lidar com problemas africanos, mas sim de compartilhar e dialogar criticamente entre africanos qualificados e profissionais que usam a filosofia de forma crítica e criativa.
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A Questão Central da Filosofia Africana

Hountondji destaca a questão central da associação da palavra “africana” com a ideia de filosofia, ressaltando que essa qualificação deixa em aberto se a palavra “filosofia” mantém seu significado original. Para o crítico, é crucial preservar a universalidade da Filosofia, o que não implica necessariamente abordar os mesmos temas ou fazer as mesmas perguntas, dada a considerável diferença de conteúdos.

É importante notar que os primeiros defensores da Filosofia africana foram homens da igreja, como Tempels, Kagame, Mbiti e Mulago, que buscavam fundamentos psicológicos para difundir o Evangelho na África sem prejudicar a compreensão local.

Hountondji observa que a palavra “filosofia” qualificada pela palavra “africana” não possui o mesmo significado que a Filosofia ocidental do século XIX. Ele destaca como as palavras mudam de significado ao serem aplicadas na Europa e na América em comparação com a África.

Ele ilustra essa mudança de perspectiva com um comentário humorístico de um amigo queniano, indicando como termos como superstição, religião, mito e democracia são interpretados de forma diferente entre culturas, com a expectativa de aprovação mútua.

Hountondji argumenta que as palavras assumem significados distintos ao transitar do contexto europeu para o africano, evidenciando como a manipulação vocabular em nome da cultura africana pode distorcer conceitos como desenvolvimento, sendo crucial uma abordagem crítica e reflexiva nesse processo de contextualização.

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