A origem do conhecimento é a sensibilidade (os sentidos, a experiência) ou da razão do sujeito (intelecto)?
A origem do conhecimento é a sensibilidade (os sentidos, a experiência) ou da razão do sujeito (intelecto)?
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ToggleNa reflexão sobre a fonte do conhecimento, a questão fundamental é: de onde provém o conhecimento? Ele vem da sensibilidade (os sentidos, a experiência) ou da razão do sujeito (intelecto)?
O conhecimento é composto por ideias (conceitos), julgamentos e raciocínios. Os julgamentos e raciocínios são derivados das ideias. Portanto, o problema da origem do conhecimento reside em determinar como adquirimos ideias e os primeiros princípios que governam todo o conhecimento.
Três teorias fundamentais surgiram na tentativa de responder à pergunta sobre a origem do conhecimento: empirismo, racionalismo e apriorismo ou intelectualismo.
A rivalidade entre empirismo e racionalismo, como correntes antagônicas, pode ser justificada pelo fato de que, em primeiro lugar, surgiram em áreas geográficas diferentes e, em segundo lugar, pela divergência nos campos de pesquisa: enquanto na Europa continental predominavam as ciências especulativas como a Matemática e a Geometria, na Inglaterra destacavam-se as ciências matemáticas e experimentais, como Botânica, Química, Astronomia, Óptica e Medicina.
Isso levou os filósofos continentais, como Descartes e Spinoza, a valorizarem o conhecimento abstrato e universal, baseado na razão, enquanto os ingleses se concentravam na busca por uma teoria do conhecimento e um método que atendesse às demandas das ciências por eles investigadas.
As ciências experimentais partem da observação de eventos específicos, da experiência de fatos concretos; seu objetivo é ir além dos fatos, descobrindo relações constantes e leis estáveis que permitam antecipar outras experiências.
A problemática epistemológica da filosofia inglesa sobre a origem do conhecimento consiste essencialmente em saber como é possível, a partir da experiência de fatos singulares, elaborar leis universais que garantam o retorno à esfera dos eventos concretos e das experiências individuais.
As origens do empirismo remontam a John Locke e David Hume, dois filósofos ingleses do século XVIII. Trata-se de uma corrente filosófica que se originou na Inglaterra e defende o primado da experiência na aquisição do conhecimento. Para esses autores, o conhecimento surge da experiência.
Segundo John Locke, no início do processo cognitivo, a mente humana é como uma “tábula rasa” ou um “papel em branco”, onde nada está escrito, e a experiência preenche com conhecimento resultante dos fatos vividos. A experiência é a fonte do processo cognitivo de duas maneiras: através da sensação, que nos traz as ideias das coisas exteriores, e através da reflexão, que nos dá o conhecimento do que se passa dentro de nós.
A partir da experiência, através da sensação, surgem as ideias simples (como a ideia de azul, doce, macio, etc.), e através da reflexão, surgem ideias complexas (como percepção, dúvida, desejo, etc.), e todas as operações da mente. As ideias complexas derivam das ideias simples, através da atividade do sujeito que as combina, separa, analisa e sintetiza. Segundo Locke, no entanto, não há diferença fundamental entre essas ideias complexas e as ideias simples das quais derivam.
David Hume, por sua vez, afirma que todos os nossos conhecimentos se reduzem a impressões ou ideias (como a visão de uma árvore e a lembrança da mesma), e pretende explicar, a partir desses conhecimentos simples, a formação das ideias complexas, através de leis ou princípios chamados “ideias de associação”.
A doutrina oposta ao empirismo é o racionalismo, que fundamenta a origem do conhecimento na razão. Esta doutrina também possui várias nuances, apresentadas a seguir:
Para Platão, as ideias são imitações ou sombras dos arquétipos (modelos) ou essências do mundo das ideias, um mundo puramente inteligível composto por realidades abstratas e universais, que a alma recorda (teoria da reminiscência). Segundo Platão, a alma racional vive no mundo das ideias em plenitude de conhecimento, pois foi encerrada num corpo e a matéria obscureceu todas as ideias, as quais só podem ser despertadas através dos sentidos. Quando o Homem nasce, já traz consigo as ideias.
Santo Agostinho parte da filosofia platônica e explica a origem das ideias da seguinte maneira: as ideias são expressas pela inteligência como provindo de si mesma e não elaboradas, como dados recebidos através dos sentidos. Como surgem então as ideias? Santo Agostinho fala de uma iluminação divina, que seria, juntamente com a inteligência, a causa da Seriação das ideias.
Descartes foi o expoente máximo do racionalismo, dada sua crença inabalável no poder da razão. Para Descartes, existem vários tipos de ideias: as ideias adventícias, provenientes da experiência; as ideias factícias, resultantes das adventícias (por exemplo, a ideia de Sereia); e, por último, as ideias inatas, aquelas que são co-naturais à própria inteligência, que provêm de Deus e, por isso, não estão sujeitas a erro. Todos os nossos conhecimentos seriam, portanto, formados a partir de ideias inatas e revelados.
Leibniz, outro grande filósofo alemão do século XVIII, admite um inatismo virtual: as ideias inatas existem em nosso espírito como percepções inconscientes que se vão conscientizando progressivamente através da experiência.
O apriorismo ou intelectualismo, ao falar do intelectualismo, não é senão referir-se a Kant e sua posição em relação ao problema da origem do conhecimento, que foi amplamente debatido pelo empirismo e pelo racionalismo.
Kant foi influenciado pelo progresso científico de seu tempo e pelo sucesso derivado do método utilizado pelas ciências exatas e naturais. No entanto, ele estava ciente da tentação de aplicar indiscriminadamente o método das ciências para explicar e compreender o ser humano, pois dessa forma os valores morais e sua fundamentação metafísica poderiam ser absorvidos pelo mundo do mecanicismo material.
As principais correntes filosóficas da época de Kant foram o racionalismo e o empirismo. Mas para Kant, o racionalismo defendia os princípios metafísicos, era desenraizado da experiência e, portanto, dogmático. O empirismo, por sua vez, enraizado na experiência, mas incapaz de levar o Homem além da experiência, conduzia o Homem ao ceticismo. Para Kant, o empirismo implica a negação da validade universal e necessária do conhecimento científico, porque a experiência nunca é universal. Com base nesta constatação, Kant integra o que há de positivo no racionalismo e no empirismo e produz sua própria teoria filosófica.
Kant faz essa integração através de uma análise crítica das três principais operações da razão humana: conhecimento, vontade e sentimentos (sensações). Esta análise deu origem a três importantes obras críticas que moldaram o mundo: a Crítica da Razão Pura (sobre o conhecimento), a Crítica da Razão Prática (sobre a vontade) e a Crítica do Juízo (sobre os sentimentos).
Segundo Kant, a verdade e o conhecimento só podem ser alcançados através do juízo. O juízo é a combinação que a mente faz entre o sujeito e o objeto. Kant distingue dois tipos de conhecimento: conhecimento puro, proveniente da razão, e conhecimento empírico, proveniente da experiência.
Na Introdução da Crítica da Razão Pura, Kant escreve: “todo o conhecimento humano começa com a experiência, mas a experiência não esgota todo o nosso conhecimento”. Ele ainda diz: “Se todo o conhecimento se inicia com a experiência, isso não prova, porém, que todo ele derive da experiência”.
O conhecimento sensível é constituído pela receptividade do sujeito que sofre certa impressão pela presença do objeto. Este conhecimento representa os objetos como eles aparecem para o sujeito. Portanto, o conhecimento empírico é sempre subjetivo; por isso, não se pode confiar muito neste tipo de conhecimento, pois depende de como o sujeito sofre a influência do objeto.
O conhecimento propriamente dito, que engloba os conhecimentos provenientes da experiência sensível e da razão, vem dos juízos que estabelecem ligação entre sujeito e objeto. Há dois tipos principais de juízo: analítico e sintético. Quando se formula a informação de que o predicado P pertence ao sujeito S, trata-se de um juízo analítico. Isso significa que o predicado P está implicado em S e não acrescenta um novo conhecimento sobre ele mesmo; apenas aumenta o conhecimento do sujeito sobre o objeto, como mostram os exemplos a seguir: um quadrado é uma figura de quatro lados, a esfera é redonda.
A afirmação “O ferro é duro” é, por sua vez, um juízo sintético, pois o atributo da dureza acrescenta mais informações sobre o sujeito. Kant também fala sobre juízos sintéticos a posteriori, que são juízos muito particulares e contingentes que dependem de uma experiência particular. Por exemplo, o juízo “A batata doce da minha horta é alaranjada” é sintético a posteriori. Neste juízo, o alaranjado é um dado muito contingente (poderia ser de outras variedades), o que requer verificar se de fato é alaranjado.
Os juízos sintéticos a posteriori são juízos concretos, de uma realidade concreta particular. Exemplos: O ferro é duro; O alicate do meu mecânico está torto. Estes juízos adicionam mais detalhes ao objeto.
Kant diz que para se ter o conhecimento verdadeiro é necessário outro tipo de juízo, que seja universal, necessário e sintético (que crie novidade). Kant não hesita em afirmar que os juízos que constituem o conhecimento verdadeiro são sintéticos a priori.
Um juízo sintético a priori, ou seja, esta operação decorre da experiência sensível, empírica da experiência, mas é feita na mente e pode ser aplicado a qualquer realidade. Este juízo é sintético a priori porque parte da experiência, mas vai além dela, podendo ser aplicado a qualquer realidade. Esta é a ciência verdadeira e a extração de Kant sobre o modo como conhecemos: a partir da experiência, elaboramos juízos sintéticos a priori, universais e necessários, aplicáveis a todas as realidades.
Segundo Kant, nosso conhecimento vem das duas fontes da mente, das quais a primeira consiste em receber as representações (a receptividade das impressões ou intuição) dos objetos sensíveis e a segunda é a capacidade de conhecer um objeto através dessas representações (espontaneidade dos conceitos ou conceitos puros). Ora, pela primeira, nos é dado um objeto, pela segunda, ele é pensado em relação a essa representação.
Ou seja, intuição e conceito constituem os elementos de todo o nosso conhecimento, de tal modo que nem os conceitos sem intuições que de alguma forma correspondam a eles, nem uma intuição sem conceitos podem dar um conhecimento.
Ambos são ou puros ou empíricos – puros, quando nenhuma sensação se mistura à representação, e empíricos, quando apenas a sensação (que pressupõe a presença real do objeto) está contida neles.
Portanto, entre a sensibilidade e o entendimento, nenhuma delas tem primazia sobre a outra, ambas são independentes e complementares, pois sem a sensibilidade, que é a capacidade da nossa mente de receber representações (impressões ou intuições), nenhum objeto nos seria dado, assim como sem o entendimento, que
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