A variação diamésica centra-se na comparação entre língua falada e língua escrita. Nesse tipo de variação, observa-se que a oralidade é mais flexível, suscetível a adaptações e alterações conforme o contexto social, enquanto a escrita tende a ser mais padronizada, embora também sofra mudanças, principalmente em contextos informais ou criativos.
ÍNDICE:
Toggle1. Criatividade lexical na fala
A variação diamésica manifesta-se fortemente no nível lexical. Segundo Preti (2003, p. 53):
“Na dinâmica lexical encontramos, na gíria, um contínuo processo criativo dos grupos sociais, em busca de efeitos expressivos para a linguagem do dia-a-dia.”
No Brasil, a fala cotidiana apresenta adaptações orais de palavras formais. Por exemplo:
- né → “não é”
- ocêis → “vocês”
- disséro → “disseram”
- téquinico → “técnico”
- tô → “estou”
- cê → “você”
(cf. ILARI; BASSO, 2009, p. 181).
Esses exemplos mostram como a língua oral é dinâmica, moldada pelo contexto social, pela rapidez da comunicação e pelo grupo social dos falantes.
2. Empréstimos e adaptações no Português de Moçambique (PM)
No PM, a variação diamésica se evidencia na incorporação de empréstimos e estrangeirismos vindos das línguas bantu (LB). Timbane (2012) observa que essas palavras muitas vezes sofrem adaptação ortográfica para se ajustarem à grafia da língua portuguesa.
Exemplos incluem:
- Matorritorri – cocada
- Tchovaxitaduma – carinho de mão
- Matapa – caril de folhas de mandioqueira
- Timbila – xilofone
- Khanimambo – obrigado
- Tontonto – pinga
- Patchar – evocar os espíritos dos antepassados
- Guadjissar – roubar, arrastão
- Xikonga – pão tradicional
- Tchipembe – pequeno corte ou arranhão
(cf. TIMBANE, 2012, p. 292-293).
Esses exemplos mostram como a oralidade preserva traços culturais, enquanto a escrita busca adaptar essas palavras à norma da língua portuguesa, resultando em formas padronizadas e reconhecíveis.
3. Comparação entre oralidade e escrita
A língua oral e a escrita apresentam diferenças estruturais e funcionais:
| Aspecto | Língua Oral | Língua Escrita |
|---|---|---|
| Flexibilidade | Alta, mudanças rápidas | Menor, regras mais rígidas |
| Criatividade lexical | Gírias, abreviações, empréstimos | Adaptações e padronizações |
| Contexto social | Determina a escolha do registro | Menos dependente do contexto imediato |
| Velocidade e espontaneidade | Instantânea e improvisada | Planejada, revisada |
No dia a dia, a oralidade permite o uso de expressões informais, criativas e adaptadas ao grupo social, enquanto a escrita tende a respeitar normas gramaticais e ortográficas, mesmo quando registra palavras emprestadas das línguas bantu.
4. Conclusão
A variação diamésica evidencia a diferença entre língua falada e escrita, revelando que a oralidade é mais plástica, criativa e socialmente adaptável, enquanto a escrita busca regularidade e padronização, mas também se transforma conforme o contexto histórico e cultural.
Compreender essa variação permite:
- analisar a dinâmica linguística;
- reconhecer a riqueza cultural refletida nas línguas;
- entender como os falantes moldam a língua para diferentes contextos sociais e comunicativos.
A análise de exemplos do Brasil e do PM mostra claramente que a língua é viva, constantemente adaptada à prática social e às necessidades comunicativas de seus falantes.